terça-feira, 14 de abril de 2009

Universidades americanas disputam campeonato de 'StarCraft'

"Vai Tigers!", alguém na multidão gritou, levantando uma faixa com Princeton soletrado em laranja e preto. O fã entusiasmado era um dos 60 estudantes que se reuniram em uma recente noite de sexta-feira para assistir ao primeiro amistoso internacional da recém-criada Collegiate Star League, a última novidade dos esportes universitários.

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O confronto entre Princeton e a Universidade de Tsinghua, de Pequim, não aconteceu em um campo ou quadra, mas em um saguão residencial com um telão, onde a transmissão online do vídeo-game de ficção científica StarCraft era projetado. Com a locução da caloura Mona Zhang, o jogador de Princeton, arqueado sobre seu computador, estava isolado em uma sala separada, com seu oponente a cerca de 10.940 quilômetros de distância.

Bem-vindo à nova geração de competições universitárias: esportes eletrônicos.

Nos últimos meses, 27 universidades - como Harvard, Yale, Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Estadual de Ohio, Texas, Cal-Berkeley, Johns Hopkins e Oberlin - se juntaram à liga para jogar StarCraft. Quatro chegaram às semifinais, que acontecem neste fim de semana. As finais devem acontecer no fim do mês.

Embora o time de 13 jogadores de Princeton, o SmashCraft Heroes, tenha sido derrotado em uma rodada anterior, Zhang, a força motora por trás da nova liga, demonstra animação sobre o futuro dos jogos competitivos. "Estamos ajudando a trazer o StarCraft aos Estados Unidos como um esporte de espectador", ela disse.

StarCraft, desenvolvido pela Blizzard Entertainment e lançado em 1998, se trata de uma guerra galáctica tripla entre Terran (seres humanos), Zerg (insetóides alienígenas) e Protoss (humanóides alienígenas). Cada raça tem suas próprias características, armas e tecnologia. Os jogadores escolhem uma, então desenvolvem para cada batalha uma economia, pesquisa e capacidades militares.

Na liga universitária, as competições estão organizadas em cinco rodadas.

Embora a indústria de vídeo-game constitua um mercado estimado em US$ 20 milhões nos Estados Unidos, a situação é bem diferente da encontrada na Coréia do Sul, onde times profissionais de StarCraft têm patrocinadores corporativos e os esportes eletrônicos geram milhões de dólares. Os grandes jogadores, que podem atrair dezenas de milhares de fãs durante as finais, são tão conhecidos do público sul-coreano quanto Derek Jeter e Peyton Manning para os americanos.

Zhang, 18, é sino-americana nascida em Maryland e aderiu ao jogo após assistir a partidas coreanas com comentários em inglês no YouTube. "Isso realmente me introduziu a um mundo inteiramente novo de profundidade estratégica", disse.

Ke Wan, pós-graduando da China que estuda pesquisa de operações, detalhou os traços das raças desse universo: os Zerg são férteis e rápidos, os Terran são estrategistas sofisticados e as unidades individuais dos Protoss são extremamente poderosas.

Wan fez uma analogia geopolítica. "Os Zerg são como a China", ele disse. "Dependem muito de sua grande população. Os EUA são Protoss porque enfatizam o valor do indivíduo. E os Terran são a Rússia, ou a antiga União Soviética, uma enorme máquina de guerra de alta tecnologia". Ele joga como Terran.

Zhang é Zerg. "Você escolhe aquele mais adequado à sua personalidade", ela disse.

Na primeira vez em que Zhang sugeriu a idéia de uma liga de StarCraft em Princeton, riram dela. Mas ela conseguiu encontrar outros jogadores - a maioria estudantes de engenharia - por aqui e em outros lugares.

"O que realmente deu certo foi a partida de demonstração entre Princeton e MIT, que nós organizamos e transmitimos", disse sobre a primeira partida da liga em fevereiro. Zhang organizou a competição com um amigo do tempo da escola primária, Yang Yang, que estava no MIT.

"Tanto Princeton quanto MIT fizeram vídeos promocionais para divulgação, e todos anunciamos o evento no YouTube, em comunidades de 'StarCraft¿ e na imprensa do campus", disse Zhang.

Para esse jogo amistoso, os espectadores - a maioria homens asiáticos - comiam salgadinhos e donuts; cerca de uma dúzia levou seu laptop para acompanhar a ação ou jogar suas próprias partidas. Peter Liu, estudante de química do penúltimo ano, que fazia os comentários ao vivo com Zhang, disse que conseguia realizar 200 APM, ou ações por minuto (uma ação é qualquer clique de mouse ou toque no teclado). "Meus dedos ficam doídos", disse Liu, um Protoss. Jogadores profissionais sul-coreanos fazem de 400 a 500 APM.

Yang Mou, 20, de Houston, e estudante de economia, é o técnico do time. "É preciso muita preparação mental", disse Mou, um Protoss, que estimou ter passado de cinco a 10 horas se preparando para o jogo daquela noite. Cada estratégia tem suas vantagens e desvantagens. É como "pedra, papel e tesoura".

Zhang, a única mulher no time de Princeton, competia com a única mulher no time de Tsinghua. Mou assumiu o microfone. "Vai ser uma batalha pelo domínio feminino", ele disse.

A partida começou quando zangões verdes (Princeton) e beges (Tshinghua), triângulos agitados com caudas e poças de desova gelatinosas passaram a ocupar a tela.

"Lá vamos nós, lá vamos nós", disse Liu animado enquanto as legiões de Zerglings verdes e alados de Princeton começaram a atacar as defesas incompletas de Tsinghua. Chamas surgiram das bases de Tsinghua. De pé, o público assoviou e aplaudiu. Foi a primeira vitória de Princeton na noite. Alguns momentos depois, Zhang voltou com um sorriso enorme e celebrou com colegas de equipe.

É claro que, comparado ao time de futebol americano de Princeton, o grupo é pequeno; fãs e jogadores provavelmente caberiam fácil no vestiário dos Tigers. Mas o clube tem grandes ambições.

"É definitivamente um jogo muito bonito", disse Liu à multidão, fazendo as brincadeiras tradicionais de intervalo. "Queremos mais gente fora da pista de atletismo e dentro da sala de jogos."

Aluna de Princeton joga StarCraft nos EUA
Aluna de Princeton joga StarCraft nos EUA

Traduzido por: Amy Traduções

The New York Times

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